Confusões Mentais

Levanta José, antes que o despertador te espete
Não precisa arrumar a cama, deixa as raízes dos lençóis marcarem tuas digitais preguiçosas
Não frite os ovos enquanto escova os dentes porque o pão na chapa pode queimar
E nem olhe o relógio quando for sair, as horas não vão atrasar para você chegar mais cedo.

Vamos José, o sol está se pondo e você ainda falta aquela montanha de registros para arquivar
Aliás você nem lembra disso, as luzes que te acompanham são os faróis do transito e as guias do metro
Pessoas se cruzam e algumas deixam fragrância, não adianta olhar para trás porque não é ela que foi a dona da brisa do perfume que te guardou lembranças

Vamos embora José, o dia já acabou, a semana também, já é São João e de repente natal e ano novo e você está como?
Não ganhou presente de ninguém.
E não adianta por roupas novas na comemoração se no fim do dia elas vão estar sujas junto com as taças na pia.
Sujas como a sua alma que tem preguiça de lavar as mãos nos rios verdes das chapadas
Suja como quem acha que o chuveiro quente é o mesmo que o verão da cachoeira
Suja como de quem usa uma manga longa para esconder o suor debaixo do braço, correndo para o ar condicionado para fingir ser mais sociável
Mas reclama do calo no pé, do café muito quente, e do cheiro de comida fritando que se espalha pelo centro da cidade e as janelas do escritório não dá conta de vedar.

Eh José! Uma hora o coração para de bater e o sangue de correr e você vai reclamar que a vida é frágil e difícil.
De qualquer sorte nem aos sábios pertencem a imortalidade, muito menos a quem esqueceu que era mortal e não deixou os dias de chuva tirar a miopia dos olhos, reclamou de dentro da janela do carro, porque tudo estava tão embaçado sem lembrar que não é a penas o algodão que te veste que precisa ser lavado.